segunda-feira, 15 de maio de 2023

Dia das mães


Marilza,Neide, Antonio 

Agostinho 

Marilza,Ramon,Lais,Sr.Antonio

Luca, Carol,Elisnete,Mirian

Luca,Elisnete

Sr.Guto

Marilza,Lais,Ramon, Sr.Antonio

Kris,Vivi,Neide, Juliana 



Sr.Agostinho, Mirian,Elisnete,Luca,Carol

 

terça-feira, 9 de maio de 2023

A Culpa é da Filomena

 A CULPA É DA FILOMENA



O caso da capivara Filomena ganhou os holofotes do país inteiro na semana passada. Filó caiu na boca do povo, para azar da diretoria do IBAMA. Eu gosto quando a população fala grosso com o Estado.


O incidente serviu para lançar luz à incômoda verdade: o Estado age de modo a justificar a própria existência, e o fará, invariavelmente, da maneira menos arriscada e trabalhosa possível.


O desmatamento na Amazônia triplicou em março deste ano. O garimpo ilegal despeja cada vez mais mercúrio nos rios. O IBAMA, contudo, parece deitado em berço esplêndido. Convenhamos: é mais fácil confiscar a capivara de um ribeirinho, mais seguro multar em R$ 18 mil um rapaz que vive de tirar leite de vaca e produzir queijo do que se embrenhar na selva atrás de garimpeiros e traficantes de animais.


Outra realidade ainda mais inconveniente: o Estado cobra da população o que ele mesmo não pode cumprir. Quando o IBAMA arrancou Filó da guarda do seu tutor, prendeu o animal em uma jaula escura, sobre um chão de cimento, ofereceu-lhe uma piscina de água verde e medicamentos vencidos.


Todas essas benesses o Estado deu a um bichinho acostumado a pisar em terra úmida, comer capim e banhar-se no rio. De fato Filó merecia o ambiente natural oferecido pelo IBAMA…na opinião dos seus intendentes, claro. Afinal, o que ampararia salários e aposentadorias tão acima da média? Adoro ver máscaras caírem!


Lembro-me do episódio que se passou em uma das clínicas privadas em que trabalhei, na cidade de Manaus. Como de rotina, realizava meus exames de ultrassonografia vascular quando, súbito, entrou na sala uma fiscal da ANVISA arguindo-me com a empáfia peculiar aos funcionários públicos afetados pela síndrome do pequeno poder:


__Cadê a papeleira? Perguntou.


__Aqui ao meu lado. Respondi apontando para o objeto.


__E as perneiras da maca?


__Aqui são desnecessárias. Não realizo exames ginecológicos.


Ela anotou algo e calou-se por um tempo até que eu decidi interromper o silêncio:


__Senhora fiscal, eu trabalho também no hospital 28 de Agosto. Como a senhora sabe, trata-se de um hospital público. Lá não há papeleira, nem perneiras na maca. A senhora já fiscalizou o estabelecimento?


A constrangedora pergunta surpreendeu-a de tal forma que a expressão de arrogância desfez-se-lhe na tez. No entanto, ela driblou o desconforto da maneira que melhor sabia:


__Sou apenas uma funcionária, doutor. Cumpro ordens.


O “cumpro ordens” desculpa o fato de o Estado não prover o que cobra dos estabelecimentos privados. Assim seus agentes esquivam-se quando alguém lhes dá um aperto.


Que o caso Filó abra os olhos de muitos. Que o leitor aprenda: o Estado não tem o dever de prover-lhe saúde, é você que tem o dever de aceitar a saúde que o Estado oferece. O Estado não tem o dever de dar educação aos seus filhos, é você que tem obrigação de aceitar a educação que lhes presta o Estado.


Não acredita? Experimente tirar seus filhos da escola e ensiná-los a ler e escrever você mesmo. Não pode! Você irá para a cadeia. Afinal, milhares de professores ineptos precisam legitimar seus holerites, ainda que você ensine seus filhos melhor. Entenda: o sistema não se preocupa com a educação das crianças, mas com os salários dos seus mestres e funcionários.


O sistema existe para proteger a si próprio, não à população, portanto, sempre toma os caminhos mais curtos, pega atalhos, usa a lei do mínimo esforço, evita riscos. Diante disso se veem alguns juízes esculachando empresários em audiências trabalhistas e outros baixando a cabeça a membros do PCC que os ameaçam em pleno tribunal. Gritar com trabalhador e empresário não gera perigos desnecessários. No fundo, juízes sabem que o aparato estatal atrás do qual se escondem não lhes garante tanta segurança.


Entendeu por que nunca se ousou confiscar as girafas e hipopótamos da fazenda Nápoles? Claro! Tratava-se de propriedade de Pablo Escobar. Apesar sanguinário e terrorista, às vezes dá prazer saber que o narcotraficante falava na cara de chefes da polícia: “coma mierda!”. O homem pôs o Estado colombiano de joelhos. Por esse motivo suas peripécias encantam pessoas até hoje.


Quem nunca teve vontade de mandar o Estado às favas? Ver magistrado afinar para traficante em plena corte gera um certo prazer no ego que o superego reprime. Afinal, se trata de um bandido, mas bandido impõe respeito. Trabalhador não.


O estamento burocrático evita problemas. De fato, mais atrapalha que ajuda. Não raro prejudica os próprios segmentos sociais oprimidos que jura defender. Assim se dá com as mulheres, cada vez mais afetadas pelas leis oriundas de agendas feministas e com os trabalhadores, sempre lesados por uma CLT que garante nada mais que baixos salários e desemprego.


Caso contrário, não haveria tantos fugindo da legislação trabalhista e procurando ganhar mais no Uber ou no Ifood. Entendeu por que o novo governo quer regulamentar aplicativos de entregas e transporte? Entendeu por que as empregadas domésticas preferem trabalhar como diaristas em vez de ter carteira assinada?


Distanciar-se da tutela estatal soa como andar fora da lei. Vira-se bandido, só que sem o respaldo das facções organizadas e fortemente armadas. A esses intrépidos cidadãos, agentes do Estado enfrentam sem dó, ao mesmo tempo que pisam em ovos ao lidar com membros do Comando Vermelho.


Hienas não caçam leões, apenas roubam comida de predadores menores e solitários. Enfrentam leões somente quando em maioria absoluta. Covardes! Prendem homens desempregados que não conseguem pagar pensão aos filhos mesmo quando as mães trabalham, condenam maridos que não querem as esposas saindo sozinhas com short socado, mas devolvem o helicóptero do chefão do PCC. Pusilânimes! Hienas!


Enquanto se riem e fartam-se do que lhe extorquiram por meio de impostos, você vive trancafiado em casa, atrás das grades. Por isso seus filhos escrevem tão mal, não há dipirona nos hospitais do SUS e o desmatamento na Amazônia bate um recorde atrás do outro. Mas, no juízo das hienas, a culpa é da Filó. Prendam-na!



André Paschoal é médico e escritor.